Olha, eu raramente digo "eu nunca vou fazer isso", porque sei muito bem o quanto a frase é perigosa. Dizer nunca requer 100% de certeza de alguma coisa. E a gente nunca pode dizer como vai reagir em situações limites. Eu podia jurar com toda convicção, por exemplo, que nunca beijaria o fulano X. Infelizmente, por lapsos da vida, já aconteceu de beijar o sapo. Que continuou sendo sapo.
Mas eu tenho, sim, algumas poucas certezas absolutas na minha vida. Uma delas é a de NUNCA, mas NUNCA mesmo, voar num Fokker 100. E não foram poucas as viagens que me deram mais trabalho para agendar porque um dos trechos era feito pela tal aeronave. Já paguei até duas vezes mais num bilhete só pra evitar o encontro com o Fokker...Não vale nem a pena explicar todos os motivos da aversão...
Por isso, pareceu um filme de terror. Claro que antes de fechar a compra, perguntei para a vendedora da agência Last Minute (aliás, o tipo de agência perfeito pra mim!):
- DBA? Não sei se conheço essa companhia...
- É boa! É alemã...
- (e tudo o que é alemão é bom???), pensei.
- ...também tem parceria com a Lufthansa, ela continuou.
- Mas qual o tipo de aeronave?
- Hum...é..boeing. A empresa voa com boeings, ela disse com sorrisinho de dúvida.
Não senti muita firmeza, mas fechei negócio. Só podia ser paranóia minha.
Hora do embarque e eu estava razoavelmente tranqüila. Achei o avião superfashion (pena q não tenho a foto aqui. Depois eu publico). É patrocinado pela Puma. Tem a marca na lataria e as aeromoças se vestem como se fossem pra academia. Ou pruma festa rave, dependendo do gosto de cada um. Estava observando tudo, achando uma certa graça na companhia até fazer o que, provavelmente, só eu faço dentro de aviões: analisar aquela folha com o desenho da aeronave, que fica na poltrona da frente. Foi assim que começou meu filme de terror. Pude até imaginar a câmera: close na minha cara de pânico; corta. Close no papel dizendo...'FOKKER 100'!!!. E uma trilha sonora horripilante. Eu juro: tinha a esperança de que o papel estivesse errado. Aquela &*#@ da vendedora me disse que era boeing. Olhei pras folhas das duas poltronas ao lado, pra confirmar, e não teve jeito. O texto era o mesmo. Não conseguia acreditar; não queria acreditar, mas eu realmente tava num Fokker 100. Pensei em pedir pra sair...Sério, pensei! Mas fui corajosa. Ou então minha vergonha venceu o medo. Pensando bem, eu amarelei. Amarelei na minha única convicção! Verdade que fui enganada e praticamente forçada à viagem...É por isso que conto essa como apenas meia traição. De todo modo, a frase "nunca diga nunca" faz muito mais sentido agora.
Vocês não tem idéia do quanto eu sofri.
***
O avião tremeu loucamente durante a decolagem. Eu estava sentada na frente e a aeromoça (eu vi! Ela tava fazendo careta pro tremor da máquina) também percebeu meu olhar de pavor. Riu e mexeu a cabeça, como se quisesse dizer: "É assim mesmo..."
***
A chegada foi espetacular. Lindíssima mesmo. Se não fosse o Fokker 100, não teria conseguido outra passagem. Não teria viajado e conhecido uma cidade incrível, um país encantador. Mesmo assim, me senti uma criança enganada pela mãe pra comer bife de fígado. No meu caso, o prato, pelo menos, era maravilhoso. Mas eu nunca mais, NUNCA mais quero viajar de Fokker 100. Ai...