Quando tinha 12, 13 anos, um dos meus grandes sonhos era morar num condomínio que via quando saía do túnel Dois Irmãos, em São Conrado. O prédio continua lá, em cima das Sendas. A Rocinha cresceu, eu também e hoje dou graças a Deus por esse sonho preguiçoso não ter virado realidade.
Minha mãe era a culpada. Na época, ela começou a me "mandar" ao supermercado. Era trabalho escravo. Ela ficava em casa, mas sacrificava a minha "Sessão da Tarde" por causa de leite em caixa e uma dúzia de ovos. Eu odiava fazer compras. Primeiro porque o mercado ficava a quase dez minutos de caminhada. Segundo porque eu detesto leite. Refrigerante era proibido durante a semana... Descobri, então, que o condomínio de São Conrado seria a solução perfeita. Passava por lá e só pensava em como as crianças daquele prédio deviam ser felizes. Para isso, bastava descer de elevador.
Depois de perder muitas Sessões da Tarde, peguei trauma. Durante anos, odiei todos os supermercados do Rio de Janeiro. Ódio-amor-supermercados agora são um vício na minha vida. Adoro. Quando viajo, é programa obrigatório.
Anteontem, visitei o primeiro na Alemanha. Fica em Obersursel, onde estou hospedada.
Os 43 mil habitantes da cidade devem caber ali dentro. É enorme.
O que mais chama a atenção: a seção de meias (várias cores, tamanhos, desenhos, promoções) e a prateleira de mostardas. Tem qualidades de Dijon sem fim e baratas! Mostarda com mel, com ervas finas, mostarda de condimentos, mostarda com frutas.
Tinha mostarda comum também.
Optei por uma de cassis. É rosa. Achei muito alternativa!
Pensar que deixei mostarda de fora da lista que inclui sorvete de pistache e chocolate com menta...O paraíso é aqui, na prateleira de Oberusel.
Tenho comido mostarda até no pão com queijo.
Lembram que a calça estava larga? Agora, não fecha no primeiro botão.
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Aprendi a pronunciar Königstein certinho. O acento tá uma beleza!
Diz-se algo como Kênicsxxtain!
Agora tenho praticado "Oberursel". É tipo ôbaauzel, fazendo bico. Mas tô quase desistindo. A cada tentativa, um novo alemão gargalha na minha cara.
Pelo menos, já sei como quebrar o gelo.
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Minha mãe me ligou há pouco. Lembramos a história do supermercado e ela riu. Disse: "Eu fazia isso pra te ensinar mesmo. É bom aprender essas coisas desde cedo". Se ela soubesse a quantidade de chocolate que tenho posto no carrinho de compras, ia ver que a tática não deu certo.
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Gente, se contasse que um corte no dedo às vezes faz uma diferença...
Essa, depois eu explico ;)
beijos.