Não foi, não é fatalidade!
Quando tragédias horrorosas acontecem - as aéreas especificamente - penso logo na fatalidade. Mesmo quando me dizem: acidente no ar é quase sempre resultado de uma terrível sucessão de erros. Eu sei, eu sei, mas, mesmo assim, a palavra fatalidade não deixa de rondar a minha cabeça. Podem me achar uma idiota pelo que vou escrever aqui e tenho consciência da quantidade de desacertos que culminaram na colisão do avião da Gol com o Legacy no ano passado. Mas não consigo deixar de pensar em como tudo deu tão errado, como se cada (in) ação tivesse sido cronometrada para que acarretasse um acidente raro como aquele - um choque em pleno ar. A cada dia que passa, claro, percebo o quanto o horror da Gol x Legacy demorou para acontecer, vista a total algazarra que reina em nossos céus! Como se já não bastasse a nossa "terra de ninguém"!
Mas, na época, minha exclamação se repetia: "Cara, que fatalidade!".
Ontem, no entanto, senti de pronto algo muito distinto. Em primeiro lugar, alegria e mais alegria com uma outra sucessão: a de medalhas de ouro obtidas pela delegação de um país cujo povo pisado fica feliz com tão pouco. Era o Brasil bombando no Pan-Americano. Nas disputas, no trânsito, na infra-estrutura...Nem a chuva estava estragando nossa festa. Até que...extra, extra! O plantão de notícias anuncia: um avião derrapa na pista de Congonhas, no centro de São Paulo, atravessa movimentada avenida e explode dentro de um prédio, matando centenas de pessoas.
"Caramba! Que tristeza! Logo hoje que o Brasil estava tão feliz com o Pan?"
Eu ouvi a frase acima pelo menos uma dezena de vezes. Pois é. Logo "hoje". Mas sabe por quê? Porque esse sim é o Brasil. Um país agora maquiado com a sensação pan-americana, que remenda situações calamitosas como esta. É um país em que ninguém responde sequer por nossa mínima segurança. Pra não falar de educação, saúde etc. Pensar em fatalidade como? Se todos os dias um avião diferente derrapava naquela pista, condenada há séculos por qualquer autoridade séria que passasse por ali... Mas, com diz a música, aqui no Brasil, a gente vai levando...
Sempre se escapava por pouco. Até que ontem, aconteceu por muito. Por mais de 200 vidas. Como li recentemente num artigo, cada país elege suas prioridades. No momento, as prioridades de milhões de reais dos governos municipais, estaduais e do governo federal não somos nós, os donos dessa terra.
Não sou ligada em energias, místicas, nada disso...A associação, porém, não saiu de minha mente: uma maravilha x uma tragédia; várias vitórias X total derrota como nação digna. O caos fervilha a esse ponto: numa tragédia com mais de 200 filhos deste solo - mãe gentil, pátria amada - que tentavam apenas se locomover e provavelmente respiraram aliviados por segundos, quando se sentiram no chão, em casa. E se até no esporte, que tem dado esses pequenos escapes de alegrias, o sorriso é trocado pela fisionomia cerrada no rosto do vencedor: afinal, não foi o lutador de tae-kwon-do que teve que se desfazer dos 5 mil reais de economias da própria mãe (que sonhava comprar um carro) para poder competir fora e continuar investindo no esporte, sua profissão. Pobre, atleta!!! Pobre brasileiro, como a maioria de nós!
1 Comments:
Fiquei chocada com esse acidente estupido. Principalmente porque uma amiga me falou que Congonhas acaba de ser reformado!
Para piorar, minha mae chegava ontem aqui. Quando soube do acidente no Brasil, fiquei nervosa! Felizmente nao foi com ela, mas que horror para todos os outros. Compartilho a sua indignaçao!! beijo
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