No banco de trás: o Pan-Americano!
Não se fala de outra coisa no banco de trás. O assunto preferido dos taxistas do Rio de Janeiro é: "E o nó que o Pan vai dar no trânsito desta cidade?". Virou uma frase do tipo "que tempo feio, hein?!". Sempre concordo, claro. Mas, meio cansada, resolvi mudar o roteiro do diálogo hoje de manhã.
- "E aí? Animado pro Pan?, perguntei ao motorista.
Soltando um muxoxo, ele respondeu:
- Ah... Esse Pan não inspira nada na minha veia poética!
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Eu adorei essa história de Pan & veia poética do senhor. Estendi a conversa. Descobri que meu motorista desta quinta-feira, véspera dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, já foi sambista. Ou melhor, letrista.
- Quando era jovem, eu gostava de samba. Na época dos bons sambas-enredos. Agora é tudo boi com abóbora!, ele reclamou.
E me contou que foi amigo do autor de "O saber poético da literatura de cordel", samba-enredo da Em Cima da Hora, na década de 70. Contou que ele também escrevia suas músicas, seus poemas..."Mas daí vêm a mulher, os filhos, depois os netos...E a gente pára, né?!", disse. Para ele, "quando a gente tá inspirado, aprende muito. Assim vêm os conhecimentos.."
Pelo tom de voz, dava pra notar um brilho nos olhos do senhor - que prestavam atenção no trânsito. Então, ele emendou nos versos. Cantou o samba pra mim. Era um cordel. Todo rimado. Pena que não consegui anotar a letra. Já no trabalho, fui a meu centro de pesquisa "google" e achei lá "O saber poético da literatura de cordel", autoria de Baianinho (deve ser então o amigo do motorista de táxi).
A música foi a vencedora do primeiro estandarte de ouro na categoria samba-enredo e é considerada pérola da história da Em Cima da Hora, uma agremiação do bairro de Cavalcante, que ficou mais atrás. Ficou lá na nostalgia pré-superproduções do Grupo Especial do Carnaval carioca.
Eu não sou sambista, tô longe de ser atleta e infelizmente não achei a letra da música para reproduzir aqui. Mas nesse dia pré-Pan, a condução do motorista-sambista, de alguma forma, inspirou algo que talvez possa chamar de minha veia poética.
2 Comments:
Nossa, que otima surpresa, hein. Eu, sinceramente, estou bem feliz de estar fora desse clima de Pan. Nao ligo para esporte e também acho que a cidade vai ficar um caos. beijos
Adorei, Churros. A veia poética surge quando a gente menos spera. Num táxi deve ter sido maravilhoso.
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