Churros com Limonada

sexta-feira, março 02, 2007

Mais uma vez...no banco de trás

Cheguei à conclusão de que tenho uma cara confiável. Pelo menos à classe taxista. O relógio marcava meia-noite, entrei no carro e disse para onde queria ir.

- Eu tô muito mal hoje!, respondeu o motorista

Fiquei totalmente ressabiada. Tinha achado a cara dele meio "bêbada". Então, pus a mão na maçaneta, esperando qualquer sinal para abrir a porta e me jogar do carro. Claro que, antes, fui educada:

- Por quê?, perguntei
- Fiquei desmaiado mais de três horas hoje.
- Como???
- Acordei às 17h para trabalhar, fui ao banheiro e não sei...Quando acordei de novo, me senti imprensado entre o vaso e a pia. Olhei o relógio e eram oito da noite!!! Fiquei três horas desmaiado ali e não sei o que aconteceu

Eu me assustei um pouco, imaginando que ele podia desmaiar a qualquer hora, sendo que ele estava no volante e eu, no banco do trás. Fiquei meio confusa, pensei em várias outras coisas também, mas achei melhor dar prosseguimento à conversa:

- Você está sentindo alguma coisa agora?
- Agora não. Minha saúde é boa...Quando acordei, até achei que minha casa podia ter sido invadida e que tivessem me batido, mas depois vi que não. Fiquei três horas desmaiado e eu moro sozinho. Estava sozinho...

Nessa hora a voz dele ficou embargada, como que pedindo colo. Ele continuou:

- A única coisa estranha que senti foi uma dor de cabeça muuuito forte no domingo de Carnaval. O pior de tudo é estar sozinho; não tem ninguém te vendo. Eu moro sozinho...Fiquei lá, completamente sozinho, por três horas...Ninguém sabia de mim.

E começou a chorar. Era o segundo taxista que chorava comigo, no espaço de três semanas.

- Você tem que ir no médico AGORA. Fico aqui e você vai direto ao hospital, eu disse sinceramente aflita. Não quis assustá-lo, apesar de me parecer algo grave. Então, lembrei a ele o caso da Malu Mader, que tinha um cisto benigno no cérebro, mas foi detectado logo e ficou tudo bem etc.

- Tenho um irmão em Copacabana. Vou até a casa dele para irmos juntos
- Faz isso agora, por favor!, eu recomendei.

Saltei do carro, primeiro achando que esse divã taxista que está se tornado rotina é, no mínimo, surreal. Depois, me senti até má por ter pensado isso. São pessoas, oras, que têm suas vidas, sentimentos e o silêncio estranho. A coincidência é que eu "ouço" suas vidas. Fiquei pensando que, apesar da minha cara confiável, os taxistas devem ser muito solitários.

xxxxxxx

Eu realmente espero que o motorista esteja bem. Já deitada na cama, me bateu um enorme remorso por não ter tido a idéia (eu nem pensei nisso!) de acompanhá-lo até o hospital.

1 Comments:

Blogger Limonada said...

Tadinho do cara...espero que ele não tenha passado mal mesmo.

5:58 PM  

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